Ontem fui dormir com um gosto amargo na boca, chorei. Chorei por ver o tempo correndo de mim sem pressa e constatar que está chegando essa hora que sempre quiz, mas que as responsabilidades que assumi (com relação a compra de nosso apartamento) não tem como voltar atrás.
Não que eu quisesse voltar, mas ontem eu precisava mesmo era de um milagre. Pra explicar melhor, temos um cheque pra compensar daqui a uma semana e não tínhamos o valor dele na conta. Ocorre que quando assinei o contrato de compra e venda, sem ler - porque estava em horário de trabalho e o tal contrato tinha mais de 20 páginas frente e verso - não foi tão difícil.
Difícil foi ter a exata noção de que estou entrando em uma dívida que só será quitada daqui a 25 anos e que não tínhamos nem como pagar o valor de entrada. Isso me abateu. E as coisas foram juntando. Juntou as injustiças que acontecem ao meu redor e me afetam, juntou essa minha falta de fé, juntou as broncas que levei sem merecer da pessoa que cuida do nosso financiamento no banco, uma mistura de coisas que tiram o sono e a alegria de qualquer um.
Nessas horas, além de um Deus, a melhor coisa que existe é uma mãe pra dizer que no fim tudo vai ficar bem, mesmo que no momento as coisa estejam péssimas. Minha mãe foi meu ânimo ontem. Toda carinhosa, me fez beber um copo grande de leite até o final, pediu pra que eu não chorasse, mas dormi, apesar de tudo.
Acordei hoje e fiquei me revolvendo na cama, sem vontade de levantar de fato e encarar mais um dia. Mais uma vez a canção "Milagres" tocou dentro de mim - fiquei ali cantando a melodia em pensamento: - Hoje o meu milagre vai chegar, eu vou crer não vou duvidar...
Li uma palavra de ânimo na minha bíblia, melhorei pra levantar. Vim trabalhar pensando a ponto de doer a cabeça, com aquele choro que fica preso na gente. Na empresa, calmaria. Não sei o que esperar mais, espero que Deus faça o melhor e oro por isso. O Rafa ligou e me deu a boa notícia. Ele conseguiu vender o carro! Alívio, milagre, uma coisa a menos a se preocupar.
Embora, eu tenha sentido e ouvido ele me contar isso que me deixou tão feliz, de maneira desanimada. Entendo o lado dele. Não deve mesmo ser fácil se desfazer de um bem por um valor tão abaixo da média só por causa da necessidade. Mas não havia outro jeito, não havia um caminho alternativo, não havia o que pensar.
Se era pra fazer, que fosse feito de uma vez, ainda que eu tenha ficado chateada por vê-lo abatido, faz parte. Isso significa que o caminho está se abrindo, que as coisas vão se resolver e que o Senhor continua conosco. Obrigada ainda é pouco pra expressar.
